17 de jun. de 2008

Curtas de Economia


Empresas brasileiras na China

Problemas com o governo local e a intensa burocracia fizeram com que poucas companhias brasileiras conseguissem se instalar na China. Mas em 2008 um novo grupo de empresas como Gerdau, Sadia e Votorantim vai se aventurar por lá
A China se tornou nos últimos 20 anos um dos principais centros de gravitação da economia mundial. Para grandes empresas que levam a competição a sério, colocar os pés no país se tornou obrigatório. Pode-se não ganhar dinheiro hoje. Ou amanhã. Mas é possível ser grande no futuro sem fazer parte da economia que mais cresce no mundo? Foi essa pergunta que levou o inacreditável número de 600 000 empresas a se instalar na China nas últimas duas décadas.
O total investido por elas atingiu 720 bilhões de dólares, valor que supera o tamanho da economia de 162 países. Nessa onda, a participação de empresas brasileiras chama a atenção pela descabida modéstia. Pouco mais de 35 companhias nacionais abriram escritórios na China. A imensa maioria tem um ou dois representantes no país. E apenas quatro abriram fábricas por lá.
Mas, assim como capitalistas do resto do mundo, os brasileiros seguem atraídos pelo fenômeno que a China hoje representa. Neste ano, um novo grupo de empresas nacionais decidiu iniciar sua saga chinesa. Entre elas estão Sadia, Gerdau e Votorantim, gigantes brasileiras que hoje tocam seus projetos com enorme discrição. Há outras. Todas pretendem ter na China uma base de produção.

Nenhum país reúne tantos atrativos para uma multinacional quanto a China. A mão-de-obra é barata, exportar é fácil, o mercado interno cresce de forma avassaladora.

Parece, enfim, uma espécie de Shangri-lá para quem quer ganhar dinheiro. Mas a vida real é diferente. Fazer negócios na China é sofrido. Aprende-se rápido que é inútil ter pressa: perde-se um tempo enorme com os obstáculos que a toda hora surgem no caminho.

O primeiro deles é o governo, que muda as regras do jogo com uma freqüência desnorteante. A Gerdau enfrenta, agora, esse tipo de problema. As regras de investimento para seu setor mudaram recentemente. A siderurgia passou a fazer parte de uma espécie de lista negra: a China não quer estrangeiros no pedaço. Com isso, as multinacionais que pretendem vir são obrigadas a comprar uma participação minoritária numa empresa local — e aturar um sócio chinês mandando no negócio.

A Gerdau sonha há anos com a aquisição de uma fábrica de aços especiais na China. Em outubro, enviou o executivo Wang Yuan, nascido em Xangai e criado no Rio Grande do Sul, de volta à sua cidade natal. Sua missão é achar um parceiro para a Gerdau. Mas, como o setor foi incluído no grupo de não-desejáveis pelo governo, está difícil encontrar o alvo ideal — isto é, uma fábrica que seja ao mesmo tempo eficiente e tocada por um grupo respeitável. “Se não entramos na China, é porque tentamos tudo e nada deu certo”, disse ele a EXAME.

Associar-se a um parceiro local é a estratégia mais comum de empresas estrangeiras que produzem na China. Primeiro, porque quase sempre é essa a vontade do governo. Em setores considerados estratégicos, não há saída. Quem quer entrar é obrigado a aceitar um sócio chinês. É onde se encaixa a Gerdau. Um estorvo para uns.

Um modelo com vantagens para outros. Afinal, um sócio local pode ajudar com suas conexões no governo e em potenciais clientes estatais. A Sadia faz parte desse grupo. A empresa contratou uma consultoria para fazer uma radiografia da estrutura de poder chinesa e, assim, identificar quem pode ajudar em seu futuro negócio.

A obsessão da Sadia por influência se explica por sua traumática experiência chinesa. De 1994 a 2006, a empresa teve uma churrascaria em Xangai com um sócio local. A idéia era usar a influência desse sócio para facilitar a exportação de frango brasileiro. Mas logo se viu que o parceiro não era tão influente assim, e nada aconteceu.

Por 12 anos, portanto, a Sadia teve em Xangai um elefante branco e inútil. Nessa segunda investida, os cuidados são muito maiores. “Já analisamos mais de 60 fábricas”, diz Wilson Arikita, responsável pela Sadia na Ásia. “Muitas são boas, mas ainda não encontramos aquela que reúna qualidade e influência.” A Sadia cogita até escolher outro país asiático para se instalar caso não encontre um parceiro adequado na China. A dificuldade é tão grande que muitos desistem nessa fase inicial. A Marcopolo abandonou provisoriamente seu velho projeto de produzir ônibus na China. Para isso, teria de ter um sócio local. Como não o achou, decidiu ter uma fábrica de componentes no país, setor no qual o governo permite projetos com capital exclusivamente estrangeiro.

Embora pareçam exagerados, os cuidados que Marcopolo, Gerdau e Sadia tomam na escolha de seus parceiros são plenamente justificados pelas experiências de outros. Erros nessa hora resultam em desastres pouco tempo depois. Há quatro anos, a fabricante de autopeças catarinense ZM abriu uma fábrica na cidade de Shengzhou, a 3 horas de Xangai, com um sócio chinês. A confiança era tanta que os brasileiros deixaram o negócio na mão dos sócios. Pouco tempo depois, perceberam que estavam sendo roubados pelo parceiro. “O rombo era enorme”, diz Luís Carlos Teixeira, diretor da fábrica. Na briga que se seguiu, a ZM conseguiu comprar a participação dos chineses e, em seguida, demitiu toda a administração da fábrica. “Se fosse para começar de novo, nem começaria”, afirma ele. Uma das disputas mais estrondosas da era pós-abertura vem se desenrolando há um ano entre a francesa Danone e seu sócio, o grupo Wahaha, maior fabricante de bebidas da China. Os franceses acusaram o Wahaha de vender os produtos da associação com outras marcas — o dinheiro, assim, ia todo para o bolso dos chineses. A relação deteriorou-se rapidamente e a Danone deve abandonar parte de sua operação na China em breve. Em maio, divulgou-se que a empresa francesa vai vender sua participação na parceria por cerca de 2 bilhões de dólares.

Revista Exame
12_06_08
Por Tiago Lethbridge



Crescimento(brasileiro) econômico depende de reformas, diz analista

Na semana passada, o governo anunciou que a economia do país está avançando no ritmo mais forte desde 1996: o PIB (Produto Interno Bruto) cresceu 5,8% no período de 12 meses encerrado em março. Empresários e consumidores querem acreditar que, desta vez, é pra valer. Entretanto, analistas estrangeiros ouvidos pela Folha afirmam que há um considerável risco de os progressos obtidos nos últimos anos não se sustentarem se algumas reformas estruturais não forem feitas --e logo. "Pela ótica da comunidade internacional de investidores, o Brasil está muito mais atraente agora do que nos últimos anos, tanto política quanto economicamente", diz Mahrukh Doctor, professora da Universidade de Hull, no Reino Unido, e pesquisadora do Centro para Estudos Brasileiros da Universidade de Oxford. A política monetária levada a cabo pelo Banco Central é sempre citada como um dos pilares da evolução recente do país. "Justamente por causa do seu histórico, o Brasil não se mostra complacente com a inflação e seus efeitos. A sociedade, por sua vez, parece estar mais disposta a fazer sacrifícios a fim de evitar que esse mal volte, pois entende que a estabilidade de preços é crucial", comenta Doctor, fazendo uma ressalva em seguida: "Essencial, importantíssima, mas não suficiente, devo dizer". A lista das melhorias prioritárias inclui infra-estrutura, sistema tributário, Previdência Social e leis trabalhistas. "O atual governo não está fazendo a sua parte", lamenta Doctor. A preocupação mais urgente, na avaliação dos analistas, é com a elevação dos gastos públicos. "Essas despesas estão demasiadamente altas e precisam ser controladas. Aumentar o superávit primário para 4,3% do PIB, como anunciado pelo Ministério da Fazenda há alguns dias, não representa economia nenhuma, na realidade, porque o aperto está sendo obtido a partir de um aumento temporário de arrecadação. Se houver uma crise mundial forte, os ventos favoráveis cessam. As dúvidas quanto a isso devem provocar cautela. É hora de ficar alerta e montar as defesas adequadas para continuar crescendo rápido no médio e longo prazo", destaca Thomas Trebat, diretor-executivo do Instituto para Estudos Brasileiros da Universidade Columbia, nos EUA. A consultoria americana Global Insight, uma das mais conceituadas no mundo, prevê que o país termine o ano com um crescimento de 5,1%, que ainda é elevado. Esse número considera um panorama de "aterrissagem suave" para a China --o país se desaceleraria devagar, ainda demandando um grande volume de commodities agrícolas e metálicas do Brasil, porém diminuindo um pouco, também, as pressões sobre os preços das matérias-primas. "Apesar das incertezas no cenário global, estamos otimistas porque os investimentos nas empresas têm sido altos e devem continuar assim, de forma a atenderem melhor a demanda interna", diz Rafael Amiel, diretor para a América Latina da Global Insight. "O país tem tudo para dar certo. É um forte exportador de alimentos e de tecnologia para biocombustíveis, produtos que serão muito demandados pelo mercado. O governo só não pode deixar de encarar seriamente os desafios que se impõem neste momento. Tem que trabalhar duro para conseguir fazer as mudanças enquanto é possível", reforça Doctor.


Fonte: DENYSE GODOYda Folha de S.Paulo 17/06/2008


Argentinos realizam panelaços em várias cidades

da BBC Brasil
Os argentinos realizaram, na noite desta segunda-feira, panelaços e buzinaços em vários pontos do país. Desta vez, o protesto durou mais de uma hora e não ocorreu somente nos bairros de classe alta de Buenos Aires, como no fim de semana, mas também nos bairros de classe média, como Almagro, e baixa, como La Matanza, na capital do país, e em diferentes cidades da Argentina. A manifestação foi convocada por uma rede de e-mails e é favorável ao diálogo entre governo e setor rural e em apoio aos ruralistas. Os argentinos bateram panelas, garrafas de plástico, ergueram bandeiras e cantaram o hino nacional. Foi o protesto mais intenso durante o governo da presidente Cristina Kirchner, que assumiu o poder há pouco mais de seis meses, no dia 10 de dezembro passado. Famílias inteiras reuniram-se nas principais esquinas e praças do país, como em Córdoba, Santa Fé, Chaco, Gualeguaychú, na província de Entre Ríos, e La Plata, capital da província de Buenos Aires. Os manifestantes ergueram ainda cartazes --"estou com o campo"-- e "presidente, queremos o diálogo". Impostos O setor rural argentino completou 97 dias de protestos nesta segunda-feira. Eles começaram quando o governo determinou, em março, o aumento dos impostos às exportações de grãos. Nesse período, ocorreram tréguas breves, a saída do ministro da Economia, Martín Lousteau, e a paralisação dos caminhoneiros que bloqueiam o trânsito nas principais estradas do país. Com isso, alguns problemas já existentes, como a escassez de combustíveis e a inflação, se agravaram, segundo analistas. As emissoras de televisão mostraram, durante todo o dia, longas filas nos postos de gasolina na busca por combustíveis. As grandes cidades, principalmente, têm declarado apoio ao setor rural --com panelaços-- desde que os fazendeiros cruzaram os braços. A presidente já disse, mais de uma vez, que não pretende reabrir a discussão sobre o aumento de impostos e anunciou que construirá hospitais, postos de saúde e estradas com a arrecadação extra. Cristina Kirchner não faz aparições públicas desde sexta-feira. Esta segunda-feira é feriado no país. Durante o dia, diferentes políticos, como Elisa Carrió, da opositora Coalizão Cívica, e Geraldo Morales, da UCR (União Cívica Radical), pediram que seja aberto o diálogo entre governo e ruralistas. "Senhora presidente, por favor, queremos paz, queremos o diálogo. Convoque os líderes ruralistas", disse Carrió. Uma das principais apresentadoras argentinas, Mirta Legrand, da TV América, afirmou: "Senhora presidente, estamos assustados. (..) Tenho medo de uma guerra civil. Faça alguma coisa." O analista político Joaquín Morales Solá, da TN (Todo Noticias e do jornal La Nación) afirmou: "É uma crise política". A expectativa é de que a presidente Cristina realize um discurso nesta quarta-feira na Praça de Maio, em frente à Casa Rosada (sede da Presidência), onde está sendo preparado um palanque.

Fonte: Folha on line
00h07
16_06__08

Classe C

Beneficiada por estabilidade financeira e inclusão digital, classe C ganha poder de consumo e pede adaptação do varejo on-line.Não é todo país em desenvolvimento que vê um grupo do tamanho da população na metropolitana Nova York ascender de camadas mais baixas e, sustentado pela estabilidade econômica, se tornar a maior classe social do país.Tamanho não explica totalmente a trajetória da classe C no Brasil nos dois últimos anos, que viu também seu poder de consumo elevado, o que faz do grupo alvo obrigatório para empresas nos próximos anos.

Fonte: Revista Exame

A questão da cana de açúcar

Só investimento garante liderança em etanol, dizem especialistas País precisa planejar os próximos 30 anos do programa do álcool, diz professor. Para economista, sem novas tecnologias, Brasil pode 'ficar para trás'. A liderança brasileira no mercado mundial de etanol pode ser ameaçada se não houver investimentos no setor. A opinião é de especialistas presentes ao Ethanol Summit, em São Paulo. Para Lucia Carvalho Pinto Melo, presidente do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), a expansão do biocombustível abre uma “janela de oportunidades”. “Esse é o momento do Brasil”, afirma. O crescimento, no entanto, depende do desenvolvimento de tecnologias para o setor, que possam garantir ao país a continuidade na liderança do mercado mundial de etanol. A opinião é compartilhada pelo professor Oscar Braunbeck, da Faculdade de Engenharia Agrícola da Universidade de Campinas (Unicamp). “Nós temos um desafio e uma necessidade de não perdermos a liderança”, afirma. “O que fizemos nos últimos 30 anos está ótimo, mas temos que pensar nos próximos 30. Temos terra suficiente, mas precisamos investir em tecnologia”. Silvia Sagari, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), aponta a necessidade de investir na criação de um mercado global para o produto, o que só será possível com o estabelecimento de padrões técnicos e de uma logística compatível com as pretensões do mercado. “Brasil é líder, mas pode ficar para trás”, diz. Exportação Enfrentada a questão dos investimentos, a exportação do álcool brasileiro acontecerá naturalmente. A opinião é do coordenador da comissão especial de biocombustíveis do estado de São Paulo, José Goldemberg. Para ele, a rentabilidade do produto brasileiro será capaz de passar ao largo das dificuldades enfrentadas pelo etanol produzido em outras partes do mundo. “Nos Estados Unidos, por exemplo, a cultura do milho para biocombustível está atingindo outros cultivos, como a soja, e criando problemas”, afirma. Já no Brasil, segundo Goldemberg, há área suficiente para suportar o crescimento da demanda sem provocar a expulsão de outras culturas. O que pode acontecer, diz, é um reflexo indireto: “A cana poderia, por exemplo, expulsar o gado para áreas da Amazônia”. São Paulo O estado de São Paulo é o principal produtor nacional de cana. Nos próximos cinco a sete anos, essa produção deve aumentar em 50%. Goldemberg, no entanto, acredita ser possível aumentar em 35% a produção do estado com base no uso da tecnologia, com pouca expansão da área plantada. Hoje, apenas 35% da cana do estado é colhida de forma mecanizada.

Fonte: Laura Naime Do G1, em São Paulo